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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Aracnídeo descoberto por pesquisadores da UFSCar e USP com nome de personagem do Senhor dos Anéis ganha espaço na mídia internacional

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP) descobre e descreve uma espécie de opilião, um aracnídeo, e escolhem nomeá-la Smeagol, como é chamado um dos personagens da série O Senhor dos Anéis e, com isso, o assunto vira notícia na mídia internacional. O artigo científico que descreve o artrópode foi publicado no último dia 18 de novembro na revista Zookeys. Logo depois virou notícia nos veículos National Geographic, Washington Post, USA Today, Time e New Scientist.
Os opiliões compõem a terceira mais numerosa ordem dos aracnídeos, a Opiliones, ficando atrás somente das ordens dos ácaros e carrapatos e a das aranhas. Por causa da semelhança superficial, são confundidos com aranhas. "Opiliões são artrópodes da classe dos aracnídeos. Eles são parentes das aranhas, mas não são aranhas. Há várias diferenças morfológicas e comportamentais que os diferem", explica Maria Elina Bichuette, uma das pesquisadores que descobriu o Smeagol, docente do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UFSCar.
São conhecidas mais de seis mil espécies de opiliões ao redor do mundo. Só no Brasil vivem mil e, pelo menos, uma dezena vive em ambientes subterrâneos. Smeagol é a terceira espécie do gênero Iandumoema a ser descrita e a primeira desse gênero sem olhos. As outras, também brasileiras e exclusivamente subterrâneas, são a I. uai Pinto-da-Rocha 1996 e a I. setimapocu Hara & Pinto-da-Rocha 2008, que ocorrem no Estado de Minas Gerais. Com cerca de 3 cm, a espécie descrita tem como principais características não ter olhos, não ter pigmentação e ter o segundo par de pernas, dos quatro que possui, muito alongado, chegando a ser cinco vezes mais comprido que o corpo.

Localização

A descoberta aconteceu em 2013 quando a equipe do Laboratório de Estudos Subterrâneos (LES) da UFSCar, coordenada por Maria Elina, estudava o local, inventariando aracnídeos de cavernas da região do município de Monjolos (MG). Além de Maria Elina, estava também um de seus orientados Rafael da Fonseca Ferreira, que na ocasião era estudante de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada da USP. Com a descoberta, Ricardo Pinto da Rocha, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP, especialista em opiliões, tendo descrito mais de 120 espécies, passou a fazer parte do grupo para descrevê-lo.
O nome Iandumoema smeagol presta uma homenagem ao hobbit que achou o poderoso anel e foi por ele enfeitiçado, passando a viver na caverna perdida, no filme Senhor dos Anéis. É um dos personagens mais populares da obra de J. R. R. Tolkien e, assim como o opilião, vive em cavernas, habitando ambientes escuros. A ideia de dar o mesmo nome do personagem ao opilião veio da professora Maria Elina, fã declarada do universo tolkiano.
Smeagol foi encontrada primeiramente na caverna Toca do Geraldo, no município de Monjolos, centro-norte de Minas Gerais. Maria Elina conta que durante o projeto de pesquisa nesta região, localizada na borda da Serra do Espinhaço, o grupo viu um homem capinando e perguntaram se conhecia alguma gruta na região. "Ele nos indicou o que chamou de toca. Demos à caverna o nome de Toca do Geraldo, em homenagem a ele. Fomos os primeiros espeleólogos (quem estuda cavernas e grutas) a explorar a gruta. Sua localização era desconhecida”, conta Marian Elina, que estuda cavernas há cerca de 20 anos.
Na caverna, que possui um grande salão de 50 metros de altura e mais de 100 metros de largura, foram encontrados aranhas, caramujos, ácaros e colêmbolos (animais bastante próximos dos insetos, mas atualmente considerados um grupo à parte), além de vertebrados, como sapos e colônias de morcegos. "E neste ambiente encontramos os opiliões, animais solitários e onívoros. Contamos ao todo 14 indivíduos, sempre isolados uns dos outros. Vi um deles se alimentando dos restos de um animal morto”, lembra Maria Elina.
A espécie de opilião cego habita um ambiente muito úmido, nas paredes da gruta e na argila depositada nas margens do rio. Os parentes mais próximos do gênero do Smeagol são opiliões que vivem fora de cavernas, em florestas úmidas, dentro de cascas de árvores, troncos ocos, bromélias e na camada de folhas no chão da floresta. São animais de hábitos noturnos.
A mesma espécie de opilião cego foi encontrada, em menor número, em outra gruta da região, a Lapa do Santo Antônio, que fica a cinco quilômetros da Toca do Geraldo, indicando uma possível conexão entre ambas as cavernas. "Encontramos a espécie somente nestas duas cavernas, pela umidade existente dentro delas, já que fora o ambiente é muito seco", diz Maria Elina.
Os pesquisadores acreditam que a incapacidade desta espécie de viver em ambiente seco, como é o caso do meio externo, pode ter colocado a espécie em risco de extinção. "Agora nosso trabalho é continuar a estudar os hábitos e as populações do Smeagol, monitorando as cavernas onde vive e mapeando outras grutas da região, pois eles precisam ser estudados e seu hábitat preservado, caso contrário correrá sério risco", finaliza Maria Elina.


Laboratório de Estudos Subterrâneos da UFSCar

A linha de pesquisa do Laboratório de Estudos Subterrâneos da UFSCar, coordenado pela professora Maria Elina Bichuette, é a Espeleobiologia ou Biologia Subterrânea, como foco em estudos sobre a fauna subterrânea brasileira. São realizadas pesquisas nas áreas de biodiversidade e conservação, ecologia de populações, comportamento e sistemática de táxons (unidade ligada ao sistema de classificação) subterrâneos. O contexto dos estudos é ecológico-evolutivo, focando a biologia comparada e buscando detectar especializações relacionadas ao isolamento no meio subterrãneo. No contexto ecológico, busca-se mapear a biodiversidade subterrânea brasileira, identificando e interpretando a ocorrência de hot-spots de biodiversidade, além de investigar os possíveis fatores históricos que moldam a composição dessas comunidades visando a elaboração de políticas para proteção do patrimônio espeleológico brasileiro.

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